8.3.15

Transcendência














Não ousei proferir O Nome,
não tive coragem.
Fiquei tão constrangido,
apesar da imensa fome.
Fome do Nome.
Alguns O diziam,
e pareciam cães raivosos,
profanando-O enquanto o desferiam
contra pobres almas feridas.
Já eu, com meu peito rasgado,
busquei na aridez da minha alma
o Sopro sagrado.
Desejei a Presença.
Encontrei na Ausência,
um altar vazio.
Minha oração sem palavras,
e meus gestos silentes, inócuos?
Na aparente orfandade,
suspeitei da beleza que preenchia o vazio.
O próprio Nada,
era a Fome,
o Desejo,
que clamava pelo Nome.
No Desejo,
na Fome,
num sentimento de falta,
Ele mesmo era Fome e Alimento.
Era o próprio apetite a Presença,
falando por meio da Ausência,
anunciando-se em meia à Carência.
Transcendi,
e embora tenha resistido em dizê-lO,
respirei-O ritualisticamente.
Respeitei os recônditos vazios de meu ser.
Pois neles havia a Beleza,
Eram – os vazios – Ela própria.
Aliviei-me, sentindo uma brisa fresca de aroma perene.
Aquietei-me, e entendi.
Era o Silêncio quem melhor proferia a doce Palavra.
E nos meus vazios, Ela estava encarnada.
Fazendo-se bela pela justa razão de não ser pronunciada.

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