Vandinho estava apaixonado pela
primeira vez, estranhava aquela sensação avassaladora. E ele bem sabia o que
significava essa palavra. Estava se tornando um vassalo. Vassalo do sentimento,
dependente da pessoa desejada, dos pensamentos involuntários que percorriam sua
mente em momentos impróprios e – o pior – do medo de não conquistar o bem maior
de ter o objeto de sua paixão ao seu lado.
O garoto sabia que precisava de ajuda.
Não relutou, foi ao encontro de seu tio materno, o Robério. Psicanalista
respeitado na sua pequena cidade, até com alguns livretos publicados (de forma
independente, impressos na Gráfica do Sr. Alfonso), o tio mais admirado da
família certamente poderia ajudá-lo a vencer tal condição.
Estando na casa de Robério, que o
chamou ao escritório, a fim de não expor o menino ao resto da família, contou
tudo o que se sucedia (em sua vida e, especialmente, em seu coração).
- Ah, então meu querido sobrinho está
apaixonado! – Exclamou o tio psicanalista alçando o tom da voz. Ao que Vandinho
se enrubesceu, mas confirmou, acenando com a cabeça morrendo de vergonha.
Robério não era de rodeios, se ajeitou
na cadeira por trás da escrivaninha na qual se punha a estudar os casos de seus
pacientes, e olhando fixo nos negros olhos do sobrinho, perguntou:
- Qual versão você gostaria de ouvir
sobre o que está acontecendo com você, uma explicação realista ou literária?
Vandinho franziu a testa, sem entender,
mas imaginou que algo realista certamente deveria ser mais apropriado. Até
porque ele não havia entendido bem o que significaria uma “versão literária”, e
estava acanhando demais para perguntar.
- A realista, Tio! – respondeu com
firmeza pela primeira vez.
Robério não poupou a inocência do
menino, descreveu criteriosamente o que chamou de “armadilha da evolução em
prol da perpetuação da espécie”. A síntese dessa sua versão era simples: o
pobre garoto, assim como muitos outros de sua idade, estava entrando na fase
propícia para procriar, ao que seus instintos começaram a se manifestar;
estimulando-o a se vincular à uma parceira. Para daí, então, copular com ela e,
obviamente, gerar sua própria prole.
- Vandinho, você está sendo guiado por
seu corpo para contribuir com a preservação da espécie humana! – declarou o
tio, ao final da explanação, com uma aparência de imensa alegria.
O coitado menino, que havia ouvido de
seu melhor amigo que aquilo tudo era algo especial, mágico, e que iria mudar
sua vida para sempre, baixou o semblante logo após a fala do tio. Ao que tudo
indica, esperava escutar algo que o motivasse a seguir em frente e, obviamente,
o instigasse a experimentar algo realmente maravilhoso.
Quando caminhava na rua em direção à
sua casa, pensou que talvez fosse melhor ter escolhido a segunda opção.
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