28.2.13

O problema de Vandinho

Vandinho estava apaixonado pela primeira vez, estranhava aquela sensação avassaladora. E ele bem sabia o que significava essa palavra. Estava se tornando um vassalo. Vassalo do sentimento, dependente da pessoa desejada, dos pensamentos involuntários que percorriam sua mente em momentos impróprios e – o pior – do medo de não conquistar o bem maior de ter o objeto de sua paixão ao seu lado.

O garoto sabia que precisava de ajuda. Não relutou, foi ao encontro de seu tio materno, o Robério. Psicanalista respeitado na sua pequena cidade, até com alguns livretos publicados (de forma independente, impressos na Gráfica do Sr. Alfonso), o tio mais admirado da família certamente poderia ajudá-lo a vencer tal condição.

Estando na casa de Robério, que o chamou ao escritório, a fim de não expor o menino ao resto da família, contou tudo o que se sucedia (em sua vida e, especialmente, em seu coração).

- Ah, então meu querido sobrinho está apaixonado! – Exclamou o tio psicanalista alçando o tom da voz. Ao que Vandinho se enrubesceu, mas confirmou, acenando com a cabeça morrendo de vergonha.

Robério não era de rodeios, se ajeitou na cadeira por trás da escrivaninha na qual se punha a estudar os casos de seus pacientes, e olhando fixo nos negros olhos do sobrinho, perguntou:

- Qual versão você gostaria de ouvir sobre o que está acontecendo com você, uma explicação realista ou literária?

Vandinho franziu a testa, sem entender, mas imaginou que algo realista certamente deveria ser mais apropriado. Até porque ele não havia entendido bem o que significaria uma “versão literária”, e estava acanhando demais para perguntar.

- A realista, Tio! – respondeu com firmeza pela primeira vez.

Robério não poupou a inocência do menino, descreveu criteriosamente o que chamou de “armadilha da evolução em prol da perpetuação da espécie”. A síntese dessa sua versão era simples: o pobre garoto, assim como muitos outros de sua idade, estava entrando na fase propícia para procriar, ao que seus instintos começaram a se manifestar; estimulando-o a se vincular à uma parceira. Para daí, então, copular com ela e, obviamente, gerar sua própria prole.

- Vandinho, você está sendo guiado por seu corpo para contribuir com a preservação da espécie humana! – declarou o tio, ao final da explanação, com uma aparência de imensa alegria.

O coitado menino, que havia ouvido de seu melhor amigo que aquilo tudo era algo especial, mágico, e que iria mudar sua vida para sempre, baixou o semblante logo após a fala do tio. Ao que tudo indica, esperava escutar algo que o motivasse a seguir em frente e, obviamente, o instigasse a experimentar algo realmente maravilhoso.

Quando caminhava na rua em direção à sua casa, pensou que talvez fosse melhor ter escolhido a segunda opção. 

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